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Chapter 4

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Data: Sábado, 08 Agosto 1998     16:01h,  *Assunto: “ Simplesmente Olá “ 

Fico contente por estares contactável via e-mail, embora, muito provavelmente, não seja o próprio a responder  aos mails, caso tal se justifique.

É só para desejar tudo de bom mas não “tudo”! Precisas de alguma dor… senão donde viria a inspiração?  O que é que esta última busca? O infinito!

Mas ninguém viu o infinito! O seu símbolo sim:  . O que não se pode materializar, pode-se simbolizar. Os poemas são isso: símbolos, para muitos, de algo que nunca viram.

 Tens a admiração de muita gente, inclusive a minha. Porquê? Razões vindas das emoções, do encantamento…

Encanta-nos e não deixes que ninguém nos acorde nem que  seja para dizer  simplesmente  “ Olá!”

 

 

Data: Domingo, 09 Agosto 1998   14:08 h,   *Assunto:  Re: “ Simplesmente Olá “ 

Não posso deixar de tentar devolver-te alguma da beleza com que me surpreendeste. Os poemas e as palavras são  invenções mágicas que nos permitem amar e, assim dizer que vivemos. Obrigado pelas tuas, belíssimas: florestas que se ocultam em cada sílaba, a cada sabor do mundo. Bem-vinda.  Um beijo

 

 

Data: Sábado,  15 Agosto 1998     8:20h,  *Assunto: “Olá2“ 

Olá

Se eu te escrevesse dizendo: “Tenho efodiofobia!” Estava-te a convencer de que eu tinha o quê  ?

Sei que o termo faz lembrar fobia ao sexo: foder… fod*fobia, é isso a efodiofobia? Não!

Efodiofobia é uma palavra que substitui um conjunto de outras palavras,  para definir  horror aos preparativos de viagem!... Conheces alguém com fobia ao sexo?! Eu não…

Tu despertas em mim a vontade de escrever!

A minha formação em letras é reduzida, a minha área situa-se mais nas ciências.

Existem ideias acerca das pessoas famosas: querem ser conhecidas, depois não querem ser  reconhecidas na rua. Ou ainda a ideia de que  não respondem pessoalmente aos emails.

Esta ultima ideia provaste-me ser falsa. Que bom!

 

Data: Segunda-feira,  17  Agosto 1998     03:11h,  *Assunto: Re: “Olá2“ 

Há  coisas que estão  próximas da música pela beleza, pelo encanto ou tão  somente pela simplicidade.  A tua mensagem foi  um pouco de música que, de repente, me assaltou a partir do  ecrã. Adorava-te conhecer. Um beijo

 

 

Data: Sábado,  22 Agosto 1998    6:30h,  *Assunto: “Olá3“ 

Olá, são 6:30h! A sexta-feira terminou há pouco. Para mim terminará apenas quando eu fechar os olhos.

Um grupo de amigos, uma discoteca e vamos divertir-nos! Estou a falar da cidade de onde acabo de chegar, agora mesmo! A música? Bem alta!

Algumas músicas bem conhecidas mas com novas misturas. Dancei, dancei, dancei! 

Cansei o corpo para dar descanso à alma. Ao cansaço da alma chamo stress. 

O teto da discoteca poderia ser mais alto para eu, melhor contemplar a música.

Os movimentos das pessoas poderiam ser mais libertos para melhor expressarem a música ouvida. Mas discordei desta ideia quando  queimei as minhas calças graças aos cigarros. O cigarro na mão do braço distendido enquanto  o queixo levantado, prestes a tocar violino, se pendurava numa cabeça que parecia recusar o corpo e querer desprender-se. Estou a falar do indivíduo, ao meu lado (observando agora melhor as minhas calças, tenho quatro rubricas de cigarro! quatro buracos chamuscados! ) e, tendo em conta as centenas de queixos tipo violino que por lá  haviam,  são poucas as rubricas de cigarro nas calças.

Adoravas conhecer-me?!

Tu és o máximo!

Tu tens tudo: amor, dinheiro e sorte...exceto o tempo .... O teu tempo é pouco... É  bom saber que roubas tempo ao pouco que  já  tens para estares aí. Obrigada!

 

 

Data: Quarta-feira,  26 Agosto 1998    04:07h,  * Assunto:Re: “Olá3“ 

........acabo de chegar. Só o  silêncio pode ser uma resposta a tão bela mensagem.

Deixa um número de telefone se  quiseres. E puderes.

 

 

Diálogo 1 * colega de trabalho * Quarta-feira,  26 Agosto 1998    10:20h

- Olá futura cantora! Estava a ver que a pausa para café nunca mais chegava! Estás muito bem disposta...  Alguma novidade que eu não saiba, querida?...

- Para de me chamar cantora! Apenas achas que eu tenho pinta de cantora, melhor dizendo alma de artista, e agora cismaste em me chamar cantora!… eu que te ature…. Não há novidades, ando apenas intrigada com uma coisa...

- Ai é?

- Uma amiga minha começou, recentemente, a corresponder-se com um cantor a cujo espetáculo foste assistir há uns meses atrás…

- A sério?!! Ele responde-lhe aos emails?! Esse pessoal tipo cantores… responde aos fans?! Vou escrever-lhe para ver se ele também me responde! Embora ache que é palermice perder tempo com essa gente! Eles não têm tempo para nada!

-Mas ele tem-lhe respondido…

- Já há algo interessante para me contares? Tipo sexo?

- Não.

- Não há nada de picante para contar?! Essa classe artística tem fama de ser “atiradiça”. Sabes como é: “Sexo, Rock e Drogas”!… mas então o que há entre ele e ela?

- Não há absolutamente nada. Quero que vejas estes emails num instante, ela gostaria de ouvir a opinião de alguém desconhecido. Ela confia em mim para encontrar esse alguém... disse-lhe que tu és cruelmente objetiva nestas coisas, disse-lhe que és malandra e portanto topas depressa os esquemas…

- Não há nada entre eles, por enquanto! Não acredito que se a simpatia dele vier a aumentar, ele não lhe queira dar uma dentada!  Ou nem será preciso ele simpatizar, bastará ela ter corpinho ou simplesmente ele ter apetite. Depois contas-me os pormenores lá do sexo entre eles,  quando a coisa chegar aí, ok? Vê se sacas os pormenores! Sexo com um fulano famoso, não é todos os dias! Mostra lá os emails entre eles!

- Fiz a impressão dos emails que ela me reencaminhou…achas que temos tempo?

- Se não temos tempo arranja-se algum tempo... deixa-me ver os emails...

- (...) Então? O que achaste bonitona malandra?

- Querida futura cantora… a primeira resposta dele, na minha opinião, sugere que ele é acima de tudo um sedutor. Parece-me que ele anda à pesca. Ele quer é sexo. Ela que tenha cuidado: ele está-se a fazer muito acessível. A tua amiga até poderá achar que a simplicidade dela o cativou mas cuidado! Além de sexo ele não deve querer mais nada. Eu não perderia tempo com este fulano. Que idade é que a tua amiga tem?...

- A mesma idade que nós as duas.

- Há aqui uma pureza de sentimentos nela que o surpreende...vê-se nas respostas dele mas investir nele, é perda de tempo. Ele parece-me ser daqueles que vive apenas da emoção e para a emoção.

- Como assim...qual emoção?

- Deixa-me ver se me explico melhor: ela tem qualquer coisa...ele não está a ver bem o que é... mas se ela tivesse aparecido do nada com uma simples e banal proposta sexual, suspeito que ele também se teria mostrado igualmente interessado e sedutor. Parece-me ser do género: depressa se entusiasma e depressa manda as fulanas à merda!

- Achas?!

- Claro que acho! É homem! É cantor! Música! Sexo! Excitação! Ela que tome cuidado. Ele seduz e depois talvez abuse da confiança depositada. A fan está perante o seu ídolo: tudo o que ele diz, e faz, facilmente a impressiona. Ele sabe disso e provavelmente quererá tirar proveito da situação: sexo fácil. Homens! sabes como é: sexo não é amor, é apenas um apetite!

- Talvez tenhas razão…

- Ela que não duvide do que eu te estou a dizer! Ele vai abusar e depois deitar fora, para o lixo! Inconsequente nas palavras, apenas sedutor... De concreto dele nada vem: nada de atos… somente palavras cativantes!... Ele é sexo e pouco mais. Eu se fosse a ela, aproveitava para conhecê-lo pessoalmente: era uma experiência diferente mas…diz a ela para saltar fora. Não escreva muitos mais emails, não vale a pena, é tempo perdido! Ela que se envolva com alguém mais do dia-a-dia...há para aí muita gente que não é famosa mas que é especial, artística, diferente do habitual…se é esse tipo de pessoas que ela gosta.

- Não achas precipitados esses teus julgamentos? Isso são as coisas do costume que se pensa acerca da classe artística, não?

- Achas que são exagerados?! Eu acho que a realidade será ainda mais exagerada! Não me admiraria nada que ele no final de cada concerto tivesse um fulano da equipa dele a levar potenciais fans, que ele adoraria conhecer para algo mais, até ao camarim dele! Já ouvi umas histórias…não sei se são verdadeiras mas é como diz aquele provérbio: “Onde há fumo, há fogo!”

- Será?!

- Sei que custa a acreditar, principalmente quando queremos fascínio na nossa vida. Esta gente da classe artística, e não só, apesar de parecerem uma coisa fantástica nas entrevistas que dão, podem ser simplesmente, e somente, um produto, uma imagem construída para se impingir ao público.

- Achas mesmo?!…

- Desde o meu divórcio que ando numa de conhecer homens interessantes e têm-me saído só merdas! Acho que vem daí o meu palpite acerca deste fulano cantor…ela que não perca tempo com ele pois, vai ser mesmo uma perda de tempo, te garanto!

- Os teus palpites costumam ser certeiros…vamos ver, e aguardar, em como vai evoluir esta história…

- O amor já é difícil…se for com um filho-da-puta...então a coisa vira mesmo um inferno! Não estou a dizer que ele o seja mas tem um monte de tentações às quais talvez ele não queira resistir. Talvez ele goste de andar à caça. Ela que se cuide! E tu também!...vocês as duas são um pouco parecidas.

- Anda, temos de ir trabalhar! Estamos atrasadas, o intervalo já acabou!...

- Tenho uma coisa engraçada para te contar acerca desse fulano cantor!... Queres ouvir? vou ser breve: a irmã duma amiga minha tem uma casa da qual se vê uma casa de campo dele –o cantor comprou esta casa há uns anos atrás. Queres, tu e a tua amiga, passar por lá? Eu convido-vos!

- E a ele? Também é possível avistá-lo?!

- Bem, para a casa ter maior privacidade… foi rodeada por um monte de arbustos e árvores que entretanto cresceram.

- Então vê-se o quê?

- Bem... vê-se a relva.

- Estás a brincar comigo?!

- Não estou a brincar! Podemos observar a casa…podemos observar quem passa para lá daqueles portões…Só temos de estar coladas ali com binóculos e ter paciência!

- Eu?! Ver relva?! De binóculos?! Só porque o fulano é cantor e relativamente conhecido?! Nem penses! O terreno do meu pai tem muita relva! Estou farta de ver relva! Até consigo vê-la sem binóculos!

- A tua amiga pode querer ver...Ficava a ver o ambiente da casa: se há muito movimento por lá, se entram muitos carros com ocupantes femininas…até pode ser que apareça alguma personalidade televisiva entre as visitas! Quando se está na onda do sucesso tem-se muitos “amiguinhos VIP”. Mas de facto não dá para ver grande coisa, aqueles arbustos de facto chateiam mas nunca se sabe! Vocês as duas podiam aparecer! Ia ser divertido!

- Relva...está bem! Que tal levarmos escondidos um casal de coelhos? Infiltrávamo-los no terreno, eles andariam todos contentes por lá: tanta relva para comer!

- Um casal de coelhos para quê?!

- Síntese: a relva do cantor, os coelhos saltitantes por lá nessa relva do cantor e, as interrogações admiradas do cantor a perguntarem donde teriam vindo tantos coelhos!

- Tantos coelhos?! Não eram só um casal?!

- Sim!...mas entretanto teriam procriado! Depois iríamos bater-lhe à porta, nós as duas, e dir-lhe-íamos que o teu casal de coelhos fugiu para lá e que aquela grande quantidade de coelhos à solta por lá, era agora toda nossa!

- Ai é?...E depois?

- E depois....ele convidava-nos a entrar e, curioso conforme ele é, iria querer saber mais coisas e acabávamos numa orgia  a três. Que achas?!

- Ás vezes sai-te cada uma! Orgia?! Tu és uma santa! Não te ponhas aí com coisas, querida!

- Achas que ele teria pedal para duas?

-Olha...tu é que estavas boa para ele. Ambos malucos. Iam adorar-se um ao outro! A tua amiga também teria a sua graça na orgia com aquela santa inocência toda! Tu armas-te em ousada mas és uma medricas!... 

- Vamos então retomar o trabalho, bonitona?

- Vamos lá!

 

 

Data: Sábado,  29 Agosto 1998    11:59h,  * Assunto: “Tempo“ 

Sabes que tu sempre me pareceste familiar? Não sei de que tempos...

Não vou alegar surpresa com este facto. Várias pessoas descrevem este fenómeno em determinadas alturas da vida delas. Poderá ser reencarnação ou então, somos cá colocados, neste mundo, com um programada pré-definido e à medida que se aproxima a ocorrência da coisa  programada, parece que já sabíamos.

Há quem tenha a mesma sensação com locais que visita pela primeira vez: parecem-lhe familiares.

Bem... o facto de negarmos algo, não quer dizer que ele não  exista.

Quanto ao número de telefone...

Retribuíres-me uma mensagem por cada email que te envio é para mim, algo de muito bom. É meu desejo conhecer-te pessoalmente mas deixa-me continuar a escrever-te aos sábados por mais algum tempo. Escrever…é-me fácil. As palavras fluem com todo o prazer. Gosto. Gosto das tuas mensagens. Se me ligasses reconheceria a tua voz inconfundível. Tenho a tua compreensão? Tenho mais algum tempo?       

 

 

Data: Domingo,  30 Agosto 1998    15:07h,  *Assunto: Re: “Tempo“ 

Fiquei fascinado ao ler a tua última mensagem. Não sei se acredito na reencarnação porque o próprio conceito de alma me é estranho. No entanto acredito na intuição, na empatia que se descobre nos jogos de palavras. Na inteligência. Admiro a tua lucidez e adoro a tua escrita. Tempo?  Todo o que quiseres. Compreensão? Quem sou eu para te julgar? Escreve.

 

 

Data: Sábado,  05 Setembro 1998    10:14h  *Assunto: “À espera que a cama me ampare”

Olá! Estou doente, desde o dia que antecedeu o de ontem.

Tu estás longe de mim, não corres perigo de transmissão desta gripe

A minha gata, ainda pequenina, anda por aqui. Está  tentada a passear por cima do  teclado do computador.

Foi encontrada num dia muito chuvoso, de manhã bem cedo, a miar, abandonada, debaixo do meu carro estacionado lá fora na rua. Era mesmo pequena! Está a fazer “pfim”... é capaz de  ser uma imitação  do meu “atchim”.  Vou pô-la no quintal, no meio das flores, entre raios leves de sol.

Tenho a cabeça a pesar de gripe...a cabeça engordou...vou cair...a cabeça pesada atira-me para trás... caio! A cama amparou-me! Que bom!

Está tudo próximo: a cama e o computador.  Aliás a minha cadeira é a minha cama pois é nesta que me sento para teclar no computador!

Não sei se hoje sairei da cama...

Vou dormir. Tchau... Que tal um dia, tu e eu, estarmos num chat online?  

 

 

Data: Domingo,  06 Setembro 1998    13:59h~, * Assunto: Re: “À espera que a cama me ampare”

Lamento saber que estás doente, mas gostei de saber que continuas com o humor em forma. Chat? Claro… um dia destes… Um beijo, as melhoras.

 

 

Diálogo 2 * colega de trabalho * Segunda-feira,  07 Setembro 1998    10:20h

- Olá futura famosa cantora! Hoje estás meia adoentada, não?

- Já tomei vários compridos anti gripe...mas parece que não se quer ir embora...

- Tu tens cara de cantora famosa com gripe! Novidades da tua amiga? Já falou com o fulano cantor ao telefone?

- Ela de início é tímida...não creio que seja para já.

-Mas que diabo...então o que é que ela espera de um tipo daqueles?!

- Penso que ela deve achar que ele é alguém diferente do habitual… Queres um pouco disto?

- Isso é relva!!! Tem a ver com a nossa conversa do outro dia? De facto, da janela da casa da minha amiga vê-se a casa do tal cantor e a relva que a circunda… Quando é que vocês as duas aceitam o meu convite para espiarmos, através de uns binóculos, a casa dele? E a propósito da nossa última conversa…já compraste o casal de coelhinhos?

- Comprei um coelho pequeno de pelúcia...toma  é teu!

- Ah! Para mim?! Olha, é todo fofo! Obrigada! És um amor! É giro! Voltando à tua amiga… tens mais alguns textos dos emails dela com o tal fulano? Posso ver?

- Toma, podes ler! Eu perguntei-lhe. Ela não se importa que tu também os leias. Se és minha amiga, ela considera também que és amiga dela.

- (…) Ela prefere o chat ao telefone?! Ele está a respeitar a timidez dela...está a achar-lhe graça. Eu é que devia entrar em cena! Eu sou de ação! Era só sexo e já estava o assunto arrumado!… Ela está-se a iludir com o fulano, ele não tem nada de especial…ele tem jeito com as palavras e é tudo. Ele está a dar-lhe conversa e ela está a gostar… Isto vai acabar mal para ela. Vai ter uma desilusão daquelas enormes!…Tenho pena dela. Espero que ela consiga tirar algum proveito desta história, com ele, caso as coisas dêem para o torto…

- Toma bem conta do coelhinho de pelúcia que te dei agora, querida!

- O nosso intervalo já acabou! vamos regressar ao trabalhinho? Olá coelhinho! Tens também umas asinhas de anjinho como esta minha amiga e a amiga desta minha amiga? Acho que não! Tu és como eu: um diabrete malandro!

 

 

Data: Segunda-feira,  07 Setembro 1998    22:06h,  *Assunto: “ Chat online”

Olá! Obrigada por me desejares as melhoras...

A minha breve ilusão de que tinha recuperado rapidamente  fez  com que aceitasse ter como motorista,  a minha  atitude insensata. Ela conduziu-me ontem, domingo, até  à praia. À  noite insultei-a.

Para infelicidade minha, não creio que os insultos a impeçam de aparecer. A minha atitude insensata não se ofende facilmente. Tive uma recaída. Estou pior. Mas nem mesmo o pior dura sempre.  Penso na quarta-feira já estar Ok.

Até breve!  Um dia destes no chat…quando te for possível, um abraço!

 

 

Data: Sábado,  12 Setembro 1998    00:07  *Assunto: “Acordar no Pensamento”

(poema)

"Hoje....hoje, tudo se conjugou, Hoje as condições foram reunidas, Hoje todas as cores negras serão usadas para chamar a escuridão, Hoje todas as cores vermelhas ferem, Hoje a noite trará pesadelos que farão o coração bater, O sonhador bater-se-á  por fugir para longe desta noite, O terror…o terror será tanto que o pensamento não irá sentir, Apenas as reações irão pensar, As reações mostrarão os seus pensamentos através do corpo, Expressões tensamente  involuntárias, Para tal a historia bastará  ser breve, Seu título“Acordar no Pensamento”, Eis a história:

Fui para onde não queria ir. Não previ. Sei que muitos vão para lá. Outros não vão. O sangue transporta o necessário para ajudar. Será impossível ir de outra maneira. Apaguei-me.  Não sinto dor nem  sei que eu existo. Puseram-me sob anestesia geral. A faca corta o corpo enquanto o sangue segue o trajecto do dia anterior. Se não o seguir no dia posterior é porque parou e eu morri. A paragem do sangue pararia  a monotonia dos seus trajectos e a minha monotonia na busca de novos. Virá o dia em que não conhecerei  desejos e voarei apenas nas minhas cinzas. Uma voz chama o meu nome.  Acordei  no  pensamento. Não reconheço a voz. Não para de chamar por mim. Tenho de sair deste túnel!  Mas quem é que está a chamar por mim?! Quem é?! E eu? Quem sou eu? Sou só  pensamento. Vejo tudo escuro. Onde estão os meus olhos?

A voz não para de me chamar “Acorde! Acorde! Está a ouvir-me? Acorde!!”

Tortura não é esta ausência,  mas esta voz que exige a minha presença no corpo! Não se cala! Não sabe que não lhe obedeço porque o corpo não me obedece? Para de chamar por mim! Estás a torturar-me! Não consigo mexer-me! Não consigo mexer parte alguma do meu corpo! Nem abrir os olhos! Nem mexer os dedos da mão! Nem fazer sinal algum! Estou enterrada viva! Meu Deus que aflição a minha!

A voz continua a chamar...

O corpo tem de obedecer-me! Tenho de conseguir ativar os músculos! Tenho de conseguir abrir os olhos! Tudo escuro... Onde é que eu estou?! Meu Deus que desorientação a minha! O corpo está a reagir! É agora que vou abrir os olhos... é agora... Consegui!

“A cirurgia já terminou?” – perguntei eu.

Os cortadores agora  estão em paz. Voltei a ser um deles: acordei o corpo. Caso contrário, diferente seria e não me quereriam. Estaria na morgue. Que horror!"

Gostaste do estilo deste texto? Estilo tipo terror?

Eu sei! Não assusto ninguém!

 

 

Data: Sábado,  19 Setembro 1998    11:41h,  *Assunto: “Montanhas altas em redor”

Está um sábado terrivelmente chuvoso!

Tenta ver-me como um espírito fantasma e compreenderás este meu outro estilo tipo romântico.  Título: Montanhas altas em redor.

Dia de nevoeiro. Chuva. Sem abrigo próximo, corres. Não vês céu, nem estrelas, nem mar. Não vês o sol nem a noite está clara. Continuas a correr. A  respiração  ofegante não te permite falar. Se  eu me  aproximasse e pusesse as mãos no teu peito para acalmá-lo, sentiria todos os teus esforços vindos da tua respiração…

Se eu  pusesse o meu peito a descoberto... Se  eu  me aproximasse do teu peito... Se te inclinasses de forma a tua face tocar a minha... eu poderei  sentir  o ar quente de dragão que libertas da tua respiração ofegante... sentir o teu coração a bater ao  ritmo do vigor, sensualidade, ardor do teu peito...

Fico de ouvido encostado ao teu coração. Ouço-te. Se te tocar na pele sentirei que a chuva  te tocou  antes de mim... A  tua pele está  quente.

Chuva!  Lama!  Folhas e restos de flores!  Tiro as roupas quentes de agasalho. Quero  ficar encharcada pela chuva, tal como tu estás agora.

Estar juntos, a pele quente sentir, adormecer, entrelaçar. Sentir-me abraçada pelas emoções fortes que me esmagam mas que eu gosto...

 

Data: Domingo,  20 Setembro 1998    19:19h~,  *Assunto: Re: “Chuva”

As tuas palavras surpreendem-me. Mesmo. Se se pode conhecer alguém pelas palavras que escreve, conheço-te, ainda que me pleno dos mistérios que emanam das  tuas frases. um beijo.

 

 

Diálogo 3 *colega de trabalho* Segunda-feira,  21 Setembro 1998    10:20h

- Olá famosa! Mais uma segunda-feira! Mais um cafézito! Sabes…tive um fim-de-semana de merd*... !

- Foi uma boa merd*?

- Meu anjo...foi uma porcaria! Conheço-o há quinze dias. Hoje de manhã, antes de vir para cá trabalhar, deixei-lhe uma mensagem no telemóvel a dizer que tudo tinha terminado! Fartei!

- Mas o que houve de tão grave assim para estares tão perturbada?

- Pareço-te perturbada?! Bem...ele começou a enervar-me!!

- A sério?! Costumas ter nervos de aço…

- Pois é! Costumo ter mas desta vez apeteceu-me perder a calma! Quando eu lhe aparecia vestida de cor de rosa, ele dava-me a entender que o vermelho seria a minha cor ideal...então eu ia de vermelho. Estava numa de lhe agradar…não costumo ser assim mas apeteceu-me agradar-lhe! Mas constatei que o gajo é uma anedota! Olha, ontem sugeriu-me a cor violeta! Nem quis saber qual era a cor que ele iria sugerir no dia a seguir! Ele andava a brincar com a minha cara! O violetazinho!  Mandei-o à merda! Ele é muito seguro de si! Se eu lhe aponto alguma coisa, ele acha que tudo lhe fica bem! Tudo nele, e na cabeça dele, é uma questão de atitude! Ele está acima das críticas vindas de simples mortais! Ele tem um jeito meio artístico…. artistas para mim: acabou!

- Ele é artista?

- Sim...pinta e escreve nos tempos livres e, tem a mania que é bom. Já estou a ver o tipo: quer estar só, depois quer estar comigo, depois quer estar com outra qualquer, depois não sabe quem quer estar, nem o que quer... Enfim, é do género artístico! Conta esta cena, à tua amiga...para que ela possa aprender! Ela que não queira artistas! São todos iguais! Eu odeio a cor violeta! Que ódio!

- Tem calma! Isso foi apenas azar.

- Hoje, nem o café está bom!

- Deixa lá. Quando ele te telefonar, o próximo café saber-te-á a chocolate!

- Comigo não há problemas. Eu não estou para aturar palermices! Em breve conheço outro e este já era!

- A rebelde que sempre conheci está de volta! Não te estava a reconhecer amiga. Não gosto de te ver chateada.

- Já te disse que eu estou calmíssima!... Bem, ao menos eu vou-me  divertindo, vou vivendo a vida, ao contrário de ti...quando é que tu arranjas alguém?

- Por enquanto não quero…

- Mas não sentes a falta de alguém para sair um pouco ao fim-de-semana... uns beijinhos e uns etc? Não fiques muito tempo sem alguém senão, vais-te meter em palermices como a tua amiga dos emails lá com o cantor…

- Tem de haver uma interpenetração...

-Uma quê...?! Interpenetração? A penetração não chega?! Uma interpenetração?! Que é isso?! Explica-me! Olha…até me engasgo a beber café! Deixas-me pasma!

- Sempre que te pasmas comigo engasgas-te e borrifas-me de café! Por sorte que estou vestida de preto! Estou toda salpicada com café! Já viste como seria se a minha camisola fosse branca? Estaria agora toda suja! Como iria poder trabalhar nesta figura? Vê lá se te pasmas menos comigo, bonitona! Queres que eu te dê umas breves palmadas nas costas para te desengasgares?

- Não, não é necessário. Claro que convém que haja penetração...mas cuidado com os termos que se usa por aqui, esta gente está sempre pronta a ouvir as conversas do vizinho do lado. Fazem de conta que estão a tomar o pequeno-almoço mas são todos ouvidos atentos à conversa alheia...

- Eu falei em sentido figurado: ele penetra mas a alma dele também é penetrada… Pronto!...já estás a borrifar-me outra vez de café! Porque é que não tomas o café de uma só vez como se fosse água?! Estás aí aos golos e de vez em quando entalas-te porque te pasmas comigo! Não regulas bem da cabeça…

- Tu regulas bem pior que eu! E fazes-me rir!… Muito bem! interpenetração: ele penetra a coisa dela e ela penetra a coisa da alma dele...Muito bem!

- O que eu te quero dizer é...olha…desisto!…Não te sei explicar!

- Espera aí! Ainda temos tempo. Eu percebi onde querias chegar: não basta existir uma relação sexual – tem de existir um vínculo emotivo, correto? A tal interpenetração!

- Eu gosto muito de ti, sabes disso verdade? Um dia destes ofereço-te uma chávena pintada por mim...

- Tu pintas?! Por favor, não me falas em pinturas que me lembras o outro palerma!

- O palerma violeta! Por vezes pinto umas telas tipo pintura abstrata. Por vezes também pinto umas chávenas, pratos, copos... Escreverei na chávena o seguinte para ti: “Que te seja dado um homem que te queira ver com qualquer cor do dia ou da noite, com qualquer cor de estado de espírito, com qualquer cor de cabelo ou batom!” Espera, só isto não basta….Ah! Já sei: “E que te queira toda nua, a toda a hora!”

- Foste mesmo para melhor! Tenho uma novidade para ti... Sou capaz de deixar isto e ir trabalhar durante uns tempos para  Austrália.

- O quê?! Quando decidiste isso?! Eu pensava que te veria aqui todos os dias da minha vida… Vais-te embora?! 

- Tenho lá o meu irmão que trabalha por conta própria. Tem um restaurante de comida portuguesa, principalmente. Também tem na ementa algumas comidas exóticas. Vou tratar da papelada um dia destes. Estou a ver se ganho coragem para deixar o país. É provável que daqui a dois anos esteja a partir para lá... Peço uma licença sem vencimento e vou! Estou cansada de tudo. Tenho de mudar de ares!

- Eu quero que fiques cá…

- Um dia se puderes faz o mesmo! Não pertences aqui, um dia também farás o mesmo! Viverás no estrangeiro! Há também outra coisa que te quero dizer…

- Sim…o que é?

- Tu a mim não me enganas! Tu e a tua amiga dos emails ao cantor são a mesma pessoa!

- Porque dizes isso?…

- Não fiques assim constrangida!... Eu não tinha a certeza mas agora tenho, apanhei-te! Tem calma! O que eu quero para ti é o mesmo que desejo para mim: o homem certo e que um dia ambas sejamos muito felizes. Eu se fosse homem mostrava-te algumas ordinarices! Para começar, à minha beira, estavas sempre sem as cuecas…

- Sim... sim...possui-me já!... Oh sim!... Ohhh!! não podemos falar mais, temos de ir trabalhar!! O intervalo para pequeno almoço já acabou!

- Sim, sim...e tirava-te a vontade de trabalhar. Só ias querer aquilo! Oh sim!

 

 

Data: Sábado,  26 Setembro 1998    15:30h,  *Assunto: “Desvendar”

Olá!  O chat online para quando?

Tentarei desvendar, se houver oportunidade, pessoalmente, o meu mistério...embora mistério em mim eu não o veja...mas se ele existe ótimo

Sabes, vou submeter-me a uma terapia por hipnose no Brasil… (não contes a ninguém, ok? É segredo). Tenho curiosidade pelo tema. Quero ver o que isso poderá fazer por mim. Também quero tirar alguns dias de férias pois já há muito que não saio de Portugal e, por outro lado, não tenho tido férias no verdadeiro sentido da palavra. Férias tem sido simplesmente está fora do local de trabalho. O dinheiro está racionado. Ficarei, como sempre, em hotéis baratos de uma estrela ou sem estrela alguma, mas não me importo.

Talvez consiga relaxar um pouco. Ando sempre a 100 km à hora. Pareço um

furação…Vou ter de pedir permissão para faltar ao emprego. Aabraço

 

 

Data: Quinta-feira,  1 Outubro 1998    01:55h * Assunto:Re: “Desvendar”

Um beijo, um abraço, vou-te procurar no chat.

 

Data: Sábado,  03 Outubro 1998    15:52h,  *Assunto: “Aparece-me...”

Olá! Desde a última semana que estou a ser contactada através do chat, em um número de vezes superior ao usual. Penso sempre se não serás tu disfarçado... mas pelas primeiras frases deduzo imediatamente que não és tu.

Meu Deus, eles matavam-me! Já não suportava o mesmo questionário: quão comprido era o meu cabelo, quão grandes são os seios, a altura, a profissão.

Aparece!.. estou em agonia!... aparece e fala comigo senão fujo dali!

 

 

Data: Domingo,  04 Outubro 1998    04:12h,  *Assunto: Re: “Aparece-me...“

A dor, a distância…

 

 

Data: Domingo,  11 Outubro 1998    18:14h,  *Assunto: “Os teus olhos nos meus”

Faz 24 h que deixei o computador. Fui à  piscina de manhã. Agora vou fechar os olhos e escrever…

Na noite em sombra me transformarei, Deixa a claridade da noite entrar no teu quarto, Ela refletirá a luz que te permitirá veres-me, Movimentar-me-ei  lentamente, De modo que os teus olhos me sigam, Estou contigo, Observas-me, Pegas-me ao colo, Rodopiamos de forma a parecermos insanos e insóbrios, Não queremos instruir  os sentimentos, Sabemos que os insípidos têm os seus prazeres, E nós os nossos…Os nossos sentimentos...São  irrefreáveis! Parámos de rodopiar porque caímos, Na queda os teus  braços continuaram a envolver-me, Na queda eu mantenho o meu rosto colado ao teu, Sinto a força gravitacional do teu corpo  sobre o meu, Prendes-me nas tuas palavras, Mas tudo parece continuar a rodopiar...Nada para... Tudo rodopia...  Fixa os teus olhos nos meus…Para tudo parar…

 

 

Data: Sábado,  17 Outubro 1998    09:42h,  *Assunto: “Fragmentos”

Os meus textos… são fragmentos. A escrita não era um hábito em mim, mas por ti, passou a sê-lo. É uma forma de chegar até ti… 

Sabes, uma vez “fiz” com que uma mulher se apaixonasse. Escrevi-lhe porque o  apaixonado dela me o pediu. Isto decorreu numa excursão de autocarro.

Via-o tão desesperado e inibido que perguntei-lhe se precisava de ajuda.

Quando ele se revelou pessoalmente a ela, como sendo o autor dos bilhetes anónimos que iam chegando às mãos dela, entregues por terceiros durante a excursão de autocarro, não ficou convencida! Não poderia ser ele! Tinha de ser outro! Mas quem?!

(poema)

"Pega nestes fragmentos e faz um espelho, Refletirá  imagens que vivem, Vivem pedaços de vida

Fragmento Um!

Os corruptos deveriam  ser incontinentes, Para que o seu mau odor fosse detetável, A magniloquência não deveria ser algo raro, Os magos da magniloquência deveriam abundar, Serem magos magnos que evaporam as  mágoas, Os que usam gravata, Deveriam gravar no seu estilo, A possibilidade de outro!

Fragmento Dois!

És feliz? Se quisesses uivar terias companhia? Tens ombro onde repousar por breves instantes? Pensas que seria tranquilizador saber onde fica o fim? Para até lá caminhares? Desejas esquecer tudo? Queres lembrar mas é difícil recordar o princípio? Porque é que  as nossas pegadas são apagadas? Para  quê a tortura? Porquê não desmanchar bolas de sabão?! O tempo passa de qualquer maneira! Porque não nos despedimos do tempo? Devemos benzer o tempo que há-de vir? Saberemos de onde veio o tempo? Para quê estas interrogações? Será que o momento da nossa conceção foi interrogado? O momento tinha de ser aquele? Estas interrogações deveriam ser interrogadas, afirmadas ou encavernadas?

Fragmento Três!

Despedacei-me, Torturar-me não me trará novos estados de dor, Agarrem-me os cabelos longos, Arrastem-me pelo chão! Não irão perturbar-me! Continuarei a pensar em quem estou a pensar, Nada será  diminuído, Violentem-me até eu  ficar confusa e  perder-me, Violentem-me até eu não reconhecer o dia e o local onde estou! Não direi nada, Nada sobre mim, Nem sobre quem estou a pensar, Eu chamo por ti! Chama-me de volta a este mundo! Tracei um caminho com as unhas da minha dor, Tenho esperança de que me possas localizar, Encontra-me! Feia é  a beleza que vem da dor, Feio é este poema, As cem mil alegrias, Depressa se esquecem numa única dor, A dor dança de alegria à minha frente, Está viva! É  essa a  alegria da dor, A de estar viva! Tu és a dor que eu não posso esquecer, Onde estás meu amor?" (fim)

 

 

Data: Sábado,  24 Outubro 1998    00:00h,  * Assunto: “Meia-Noite”

É meia-noite e não sei qual é a fase da lua. Não a vejo.

O corpo humano é formado maioritariamente por água e assim, como a lua afeta o mar também afeta o ser humano, dizem. Repara na tua mudança de estado de espírito nas diferentes fases da lua e diz-me se concluis daí alguma relação existir.

Existe a crença de que a realização de  feitiços deverá ter lugar  na lua cheia.

Compreendo a verdadeira dimensão do teu trabalho, bem como imagino o  esforço que terás de  fazer para responderes, pessoalmente, a todos os emails.

Há sempre em espetáculo e uma viagem a fazer que te coloque no local do espetáculo… Tu não tens tempo. Ou estou a exagerar?

Sabes…por vezes tenho saudades de mim bem pequena. Tinha o hábito de me concentrar nas expressões faciais dos adultos e rir-me que nem uma doida. A forma como os músculos faciais deles se moviam. Olhava-os de tal modo que ampliava o movimento dum músculo em particular. Muitas vezes fazia-o quando estavam a ralhar comigo por algo. Acabava por apanhar tareia, pensando eles que me ria das suas censuras. Nesses momentos de risada descontrolada era difícil  causarem-me dor física – eu não parava de rir, pelo que  apanhava tareia ainda com mais intensidade.

Espero que o teu trabalho esteja a decorrer com sucesso. Bem como espero que esteja tudo bem contigo. Se alguma vez precisares de ajuda, diz-me. Direi ao meu anjo da guarda para me abandonar temporariamente e  ir em teu auxilio!

Estou a visualizar-te: “Anjos?! “ Tu não acreditas, pois não? És ateu!

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